Ajuste para cima na safra recorde de grãos

Ainda há riscos climáticos para as lavouras de milho "safrinha" e de trigo, mas os produtores brasileiros devem mesmo colher a maior safra da história neste ciclo 2010/11, chegando a 161,5 milhões de toneladas.

A 9ª projeção de safra, divulgada ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mostra um resultado 8,2% superior aos 149,3 milhões de toneladas de 2009/10. A produção cresceu, segundo o estudo, embalada por uma expressiva elevação de 4% na produtividade média das lavouras em todas as regiões, sobretudo no Rio Grande do Sul, Goiás, Bahia, Maranhão e Rondônia.

A soja segue sendo a principal geradora de riqueza no campo. O grão responde por 46,5% de toda a safra nacional, com 74,99 milhões de toneladas, quase 10% acima da última safra. O milho fechou com 56,73 milhões de toneladas na safra de verão, mas a safrinha deve apresentar perdas. Agora, a Conab estimou em 21,7 milhões de toneladas. Mas isso pode mudar.

Em Mato Grosso, há um recuo expressivo de 8,5% e a produtividade total no país teve queda, até aqui, de 9%. Isso deixa em alerta as indústrias processadoras de carne de frango e de suínos, que têm no milho o principal insumo. "Perderemos três ou quatro milhões de toneladas", previu o diretor de Política Agrícola da Conab, Silvio Porto. "Isso é porque temos trabalhado com produtividades mais reais e conservadoras". Mas a expansão da produção no Nordeste, disse ele, deve ajudar no balanço final.

A nova estimativa reacendeu a disputa de bastidores no governo pela "paternidade" das projeções. Desde sempre, Conab e IBGE fazem todo mês uma disputa, com dados conflitantes, para estabelecer quem tem mais influência sobre as estatísticas. Ontem, porém, o ministro da Agricultura Wagner Rossi deixou a política de boa vizinhança de lado e escancarou a briga, em defesa da Conab. "Somos mais realistas e eles, mais conservadores". Rossi defendeu que o IBGE faça um "quadro anual" para o registro estatístico nas contas nacionais. E a Conab cuidaria da previsão a partir da realidade do campo.

Fonte: Valor Econômico