Carne suína volta a enfrentar barreiras na Argentina
As exportações de carne suína do Brasil para a Argentina voltam a encontrar barreiras, apenas quatro meses depois do acordo entre os dois países para restabelecer o fluxo comercial. Segundo Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, a associação brasileira que reúne os industriais exportadores do segmento, há três semanas os negócios estão suspensos. "O governo argentino não está liberando declarações de importação. Este mês só estamos prosseguindo com as compras que já haviam sido autorizadas", disse.
Desde fevereiro, todas as compras argentinas do exterior precisam ser autorizadas caso a caso pelo governo, por meio de uma declaração jurada. Nos primeiros meses deste ano, as importações de carne suína oriundas do Brasil caíram da faixa de 4 mil toneladas por mês para apenas 94 toneladas, registradas em maio. Um acordo entre os governos dos dois países, envolvendo uma cesta de produtos, restabeleceu o comércio e no mês passado entraram na Argentina 3,5 mil toneladas.
A nova paralisação fez com que Camargo Neto procurasse a secretária brasileira de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, para tratar do tema. As empresas do ramo se comprometeram a enviar informações ao governo brasileiro sobre o ritmo das liberações nos últimos dias. O governo do Brasil pretende agir com prudência em relação ao tema.
O entendimento de autoridades do setor na área de comércio é que, com a normalização das importações russas da carne suína brasileira, a tendência é de que diminuam os atritos neste mercado entre Brasil e Argentina. Na avaliação brasileira, o resultado do comércio no último trimestre foi positivo.
Segundo o executivo brasileiro, as exportadoras estão sendo informadas por importadores de que o governo da Argentina teria começado retaliações seletivas em função da resistência do Brasil em abrir o mercado local para crustáceos.
A Argentina produz o lagostim, uma espécie de intermediário entre o camarão e a lagosta, mas o mercado brasileiro está fechado para importações desde 1999. O governo argentino aumentou a pressão sobre o brasileiro em função da situação de crise na indústria pesqueira do país. Este ano, de acordo com dados do ministério argentino da Agricultura, houve uma queda de 24% no faturamento das exportações de crustáceos entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com 2011.
Segundo Martín Gyldenfeldt, diretor da CAICHA, a associação argentina que reúne os industriais da carne suína, as importações brasileiras começam a encontrar problemas por descumprimento do acordo do ano passado. "O que havia sido acertado é a entrada de carne suína brasileira que servisse como matéria-prima para a nossa indústria. Mas o que tem sido observado é a compra em volumes crescentes de produtos industrializados, acabados, como o presunto cozido, por exemplo", disse. De acordo com Gyldenfeldt, no mês passado ingressaram na Argentina 250 toneladas de presunto.
A indústria de suínos da Argentina depende estruturalmente de importações. O país produz anualmente cerca de 300 mil toneladas de carne suína, para um consumo aparente de 360 mil toneladas. A demanda é atendida em 85% pelo Brasil. O restante se divide entre o Chile e a Dinamarca, que abastece a Argentina de produtos defumados.