Com quebra de parte da safra de milho, governo quer garantir abastecimento do grão
Cereal é a principal base da ração e responde por 70% do custo de produção de aves e suínos, com impacto direto na inflação
A quebra de 48% da safra de milho do Rio Grande do Sul e de 11,8% de Santa Catarina, provocada pela forte estiagem, aumentou a preocupação do governo com o abastecimento. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Caio Rocha, diz que a orientação da presidente Dilma Rousseff é de que o governo aja para que não falte milho aos criadores de aves e suínos da região Sul, que neste ano terão de elevar as compras do cereal de outros Estados. Milho é a principal base da ração e responde por 70% do custo de produção de aves e suínos, com impacto direto na inflação.
O governo vai lançar mão dos instrumentos da política agrícola para atender a esses consumidores. Rio Grande do Sul e Santa Catarina respondem juntos por 48% dos suínos e por 28% dos plantéis de aves existentes no país. Os dados são do levantamento da produção pecuária municipal, feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O analista de mercado da Companhia Nacional de Abastecimento, Thomé Luiz Freire Guth, observa que a maior dificuldade não é a oferta do grão, mas o custo logístico para levá-lo até os consumidores. As regiões não atingidas pela seca, como Minas Gerais, São Paulo, Goiás e o Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) estão muito distantes, e para os criadores do Sul a aquisição do produto de lá não é interessante comercialmente, diz Guth.
A entrada do governo no mercado será justamente para tentar balizar os preços do produto na região Sul. O secretário Caio Rocha explica que a intenção é impedir que os valores superem os atuais R$ 30 por saca. O governo anunciou que disponibilizará recursos para que pequenos criadores do Sul comprem 400 mil toneladas de milho no mercado de balcão a um custo final de R$ 20 a saca.
O governo também vai subsidiar o frete de outras 500 mil toneladas que serão ofertadas para agroindústrias e cooperativas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, por meio de leilões de Valor de Escoamento da Produção (VEP), a fim de que o produto depositado na região Centro-Oeste chegue ao destino abaixo dos R$ 30 a saca. Os estoques públicos de milho somam atualmente 1,67 milhão de toneladas, das quais 1,102 milhão de toneladas estão depositadas em Mato Grosso e outras 357 mil toneladas em Goiás.
O secretário Caio Rocha acredita que os R$ 900 milhões existentes no orçamento para a política de intervenção no mercado de milho serão suficientes para resolver o problema de abastecimento de curto prazo, pois a situação tende a se normalizar a partir de junho, quando entra no mercado a segunda safra de milho (safrinha), atualmente em fase de plantio. A primeira estimativa da Conab sinaliza para uma produção recorde de 25,8 milhões de toneladas nesta safrinha.
Com base na perspectiva de aumento da área da segunda safra, impulsionada pelos preços remuneradores do cereal, a Conab projeta excedente de milho ao final da safra 2011/12, mesmo com o problema regional provocado pela quebra de safra.
A Conab calcula que a disponibilidade nesta safra será de 70,6 milhões de toneladas de milho; estoque inicial de 9,2 milhões de toneladas, produção de 60,8 milhões de toneladas e importação de 500 mil toneladas. A oferta será suficiente para atender à demanda estimada em 49,9 milhões de toneladas e exportação de 8,5 milhões de toneladas, sobrando ainda um estoque de passagem de 12,2 milhões de toneladas.