Mau tempo prejudica lavouras de inverno e de verão

De acordo com a Conab, produtores gaúchos de trigo sofrem com a baixa qualidade do grão

A imagem do trigo no campo no início da safra era motivo de orgulho para o produtor Almir José Görgen. A expectativa para a área de 78 hectares em Não-Me-Toque, no norte do Rio Grande do Sul, era produzir mais de 65 sacas por hectare. Há um mês, a satisfação do agricultor transformou-se em tristeza.

Pouco antes da colheita, a geada e a chuva forte devastaram 96% da lavoura e mudaram o cenário promissor de produtividade. Assim como na propriedade de Görgen, o descompasso com o clima tem sido recorrente nos campos do Estado, causando prejuízos às safras de inverno e verão.

– Usamos tecnologia de ponta para o trigo, com alto custo de produção. Agora, no final da safra, vimos o investimento perdido por causa do clima. O que vamos colher deve ter qualidade muito baixa – lamenta o produtor, que planeja iniciar a colheita na próxima semana.

Produtores Orides Pollo e Almir Görgen falam das perdas nas duas lavouras devido ao mau tempo

Com cerca de 30% da área colhida no Rio Grande do Sul, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), produtores de trigo sofrem com a baixa qualidade do grão. Em algumas áreas, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS), triticultores sequer farão a colheita, pois a qualidade não atinge o mínimo aceitável para compensar os custos da retirada do produto.

O engenheiro agrônomo da Emater/RS Alencar Rugeri explica que a produtividade da safra teve redução de pelo menos 10%. As áreas mais prejudicadas foram as regiões de Ijuí, no Noroeste, e de Passo Fundo, no Norte do Estado, onde geada e chuva atingiram as plantas na fase final da maturação.

Outras culturas de inverno, como cevada e canola, também sofreram com os efeitos do clima. Gelson Lima, gerente de produção da Cotrijal – que reúne cerca de 5 mil produtores de 14 municípios do Norte –, afirma que associados perderam cerca de 50% das produções de trigo e cevada e tiveram queda de produtividade com a canola.

– Em qualidade, nossos associados perderam quase 100% da cevada colhida – diz Lima.

É o caso de Görgen, que viu a produção de 30 hectares de cevada prejudicada pelo vento forte e excesso de chuva na fase de germinação.

– Colhemos cevada de qualidade ruim, que não será aceita na maltaria. Teremos de destiná-la à alimentação animal – conta o produtor.

Replantio embute maior risco para cultivo

O tempo também castigou culturas de verão. Orides Pollo perdeu cinco hectares de milho em Passo Fundo, no Norte do Estado gaúcho. Na tentativa de obter produtividade de 150 sacas por hectare, aplicou 30% a mais em sementes e insumos de melhor qualidade, mas perdeu o investimento para a geada. A altura das plantas que restaram não passava de 20 centímetros, quando deveriam ter 90 centímetros. Com ajuda do seguro agrícola, pretende replantar milho e soja. Alencar Rugeri, da Emater/RS, alerta que o replantio expõe a cultura a riscos.

– Replantado agora, o milho pode sofrer mais com a falta de chuva e perder produtividade – afirma Rugeri.

Na área da Cotrijal, cerca de 30% das lavouras de milho foram refeitas. Levantamento preliminar da Conab mostra que a maioria dos produtores com perdas no milho decidiu trocar o cultivo por soja.

– O grão atraiu produtores que precisaram replantar as lavouras pelo alto preço de mercado e pelo menor custo de implantação, comparado ao do milho – afirma Ernesto Irgang, assistente da superintendência regional da Conab.

O excesso de chuva também prejudicou o arroz, atrasando o plantio na Fronteira Oeste e na Campanha. No Estado, 38,4% da área foi semeada, conforme o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Em 2010, a área semeada na mesma época era de 73,3%.

– O ideal é plantar antes de 15 de novembro. Depois, a produtividade pode cair pela falta de luminosidade no desenvolvimento da planta – diz Claudio Pereira, presidente do Irga.
 

Efeitos adversos

TRIGO

Cerca de 30% da área do cereal já foi colhida, conforme a Conab, e triticultores sofrem com a baixa qualidade do grão. Devido à geada, ao excesso de chuva e ao vento forte, que danificaram a planta na fase final da maturação, a produtividade da safra reduziu pelo menos 10%, conforme a Emater/RS. Regiões mais prejudicadas foram o Noroeste e o Norte.

CEVADA E CANOLA

A cevada e a canola, culturas de inverno, também sofreram com o descompasso do clima. A geada e os temporais prejudicaram a cevada na fase de geminação, reduzindo a qualidade do grão e impedindo o processamento nas maltarias. Com isso, produtores serão obrigados a destinar o produto para alimentação animal. A canola sofreu com o vento forte na época de colheita, que reduz a produtividade.

MILHO

No Rio Grande do Sul, cerca de 62% da área foi plantada. Geada e granizo devastaram muitas lavouras nas Missões, no Noroeste e no Norte. A saída para muitos produtores foi o replantio de milho e, principalmente, soja nas áreas. Quando replantado, o milho fica mais exposto à falta de chuva durante o desenvolvimento e pode ter queda na produtividade, conforme a Emater/RS.

SOJA

O plantio de soja não sofreu atrasos no Estado devido ao clima, segundo a Conab. A chuva passageira beneficia as lavouras, pois a terra úmida facilita a germinação da planta. Conforme a Emater/RS, 6% da área foi semeada no Estado. No país, de acordo com levantamento da Safras & Mercado, a área plantada corresponde a 28%.

ARROZ

O plantio de arroz no Estado foi atrasado devido ao excesso de chuva na Fronteira Oeste e na Campanha, o que pode reduzir a produtividade. Cerca de 35% da área da cultura foi plantada na Fronteira Oeste e 26% na Campanha. A média estadual, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), é de 38,4% da área plantada. Na mesma época em 2010, o Estado havia semeado 73,3% da área de arroz.

TABACO

O plantio foi antecipado em cerca de 20 dias devido ao inverno seco e com boa luminosidade. No entanto, com a forte chuva dos últimos dias, o tabaco perdeu produtividade. A redução deve ser de 10% em relação à safra passada, segundo a Associação de Fumicultores do Brasil (Afubra). No Estado, 15% da área foi colhida.

Fonte: Zero Hora