Mobilização de agricultores impede trabalho do Incra no Rio Grande do Sul
Manifestantes não concordam em deixar área que foi declarada pela Justiça como terra indígena
Uma manifestação que reuniu cerca de 400 pessoas, a maioria agricultores, impediu que uma equipe de técnicos e peritos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) realizasse o trabalho de medição e avaliação de terras e benfeitorias em Vicente Dutra, no Norte do Rio Grande do Sul. A área com 715 hectares foi declarada pela Justiça como terra indígena em 2004 e deve ser ocupada por índios caingangues que hoje vivem em uma reserva próxima.
O processo de desocupação iniciou há mais de uma década. Atualmente, vivem no local 78 famílias de pequenos agricultores que não concordam em deixar as propriedades, pois possuem a escritura das terras.
Os manifestantes se concentraram na estrada que dá acesso a área. Máquinas agrícolas e caminhões também foram dispostos ao longo da via. Dezenas de policiais civis, militares e federais fizeram a segurança no local.
Os agricultores pediram uma reunião com integrantes da Funai e do Incra. Depois de mais de uma hora de conversa, a equipe desistiu de fazer o levantamento fundiário das propriedades temendo conflito com os manifestantes. Os agricultores comemoram a decisão, ainda que temporária.
Segundo o chefe do setor de serviços da Funai, Roberto Perin, os técnicos devem retornar nas próximas semanas para fazer o trabalho.
— Entendemos a angústia das famílias, mas estamos cumprindo ordens da Justiça. Voltaremos com reforço de policiais e, se necessário, com mandados judiciais para termos assegurado o direito de acesso às propriedades rurais — disse.
Recentemente, a Justiça Federal do município de Carazinho determinou que fosse realizado o levantamento fundiário das propriedades mesmo sem saber quem indenizará os agricultores. A Funai se comprometeu apenas em pagar as benfeitorias. Quanto às terras, o Estado entende que deva ser quitado pelo governo federal, já que a área está localizada em uma faixa de fronteira.
Os advogados que representam as famílias atingidas devem ingressar com um pedido para tentar invalidar a decisão judicial que concede a área para os índios caingangues. Apesar da grande movimentação, não houve conflitos entre agricultores e a polícia.