O produtor brasileiro vê cada vez mais o mercado se afunilando.
A intenção da Rússia em eliminar as importações de produtos suínos até 2020, atingindo sua autossuficiência, é um assunto que preocupa em muito os produtores e lideranças do setor no Brasil. Isto porque o principal mercado comprador de carne suína brasileira é justamente o país russo, que entre janeiro e abril deste ano já adquiriu 68.220 toneladas do produto, o que representa no mercado nacional 40,34% de participação, conforme informações da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
Para chegar à autossuficiência, no entanto, a Rússia precisará aumentar em muito a sua produção de suíno para conseguir colocar um ponto final nas importações. Segundo o Ministério da Agricultura daquele país, há capacidade para acelerar o aumento do plantel suinícola, além de construir centros de genética e estabelecer uma série de normas que visam aumentar a eficiência de sua produção.
Na outra ponta, o produtor brasileiro vê cada vez mais o mercado se afunilando e sem grandes expectativas futuras de melhorias. Em entrevista à reportagem do Jornal O Presente, ontem (23), o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Carlos Francisco Geesdorf, ressalta que a alternativa para a suinocultura brasileira é a abertura de novos mercados compradores de carne suína. “A situação é preocupante, pois, por mais que tente abrir novos mercados, o Brasil não está conseguindo. A própria China seria uma alternativa, mas acaba se tornando como a Rússia, pois ficamos na mão de apenas um comprador do mesmo jeito. O cenário está complicado. Enquanto o Brasil não conseguir abrir um leque de compradores, vamos continuar sofrendo, como estamos agora”, declara.
Questionado quais têm sido as principais dificuldades para a abertura de novos mercados, Geesdorf menciona que existe uma série de barreiras comerciais e sanitárias. “A China quer comprar carne do Brasil, mas por outro lado quer vender muitas coisas para o nosso país, ou seja, é uma troca que traz muitas dificuldades. Para outros países, como da União Europeia, Estados Unidos e Japão, a questão é sanitária. Enquanto o Brasil não equacionar o problema de sanidade e o país ou uma grande região não for liberada da vacinação contra febre aftosa, cumprindo com outros protocolos, sabemos que as dificuldades serão sempre as mesmas. Estes países nos impõem barreiras para não comprar a carne brasileira”, afirma o dirigente.
Custo de produção
O presidente da APS aponta que outro problema sério que o Brasil enfrenta é com o alto custo da produção de carne suína, que não permite a concorrência do produto no mercado internacional. “O custo de produção é muito alto e é um fator muito preocupante. O custo varia conforme a região, mas está na média de R$ 2,40, enquanto que o produtor está vendendo o suíno entre R$ 2,10 e R$ 2,20. Ou seja, mais uma vez o suinocultor está trabalhando no prejuízo”, lamenta.
Estes fatores têm feito com que o mercado atual não seja nada favorável à suinocultura. Além disso, as perspectivas não são animadoras, revela Geesdorf. “Não temos grandes alternativas. O produtor está fazendo a parte dele, ao criar da melhor maneira possível o suíno, com qualidade excepcional e produtividade muito boa. No entanto, a parte que o governo deveria fazer não o faz, como é o caso da redução do preço dos insumos ou medidas para que o custo de produção seja mais razoável. Tem se falado muito sobre isso, mas não temos visto nada na prática”, analisa.
Conforme o dirigente estadual, são medidas que dependem unicamente de um posicionamento do governo para favorecer o produtor brasileiro. “Hoje o milho está concentrado na mão de grandes vendedores no mercado externo e nós, que sustentamos a produção nacional de carnes, tanto na avicultura como na suinocultura, não contamos com a sinalização do governo para mudar a situação”, salienta.
Todo este cenário ruim e sem as expectativas de melhoras nos próximos meses está fazendo com que os suinocultores se sintam cada vez mais desestimulados a continuar na atividade, destaca o presidente da APS. “A cada dia as dificuldades aumentam e o ciclo de crise cada vez fica mais próximo. Antes o ciclo de crise surgia a cada três anos, enquanto que agora é a cada três meses. A maioria dos produtores não aguenta mais essa situação”, conclui Geesdorf.