por: Thiago Caetano Schmidt Cantarelli, médico veterinário na Cooperativa Tritícola de Frederico Westphalen/RS.
O carrapato Rhipicephalus (boophilus) microplus é um artrópode pertencente à classe Arachnida e a ordem Acari, é considerado o carrapato mais comum em bovinos. Este gênero pertence à família Ixodidae e a mesma apresenta três sub-familias: Ixodinae, Amblyminae e Rhipicephalinae, sendo esta última a que da origem ao B. microplus.
Os prejuízos causados pela infestação deste ectoparasita, em bovinos, envolvem fatores que diminuem a produtividade do rebanho, pois estão relacionados à perda de peso e rendimento devido ao estresse que causam aos animais. Além do risco eminente à saúde pública devido possível presença de resíduos químicos no leite e na carne destes animais tratados.
O controle e manejo dos animais envolvem custos com mão de obra, construção de instalações para o manejo, aquisição de equipamentos e produtos carrapaticidas, além dos já mencionados anteriormente. No Brasil, dos prejuízos anuais com o rebanho bovino devido a parasitas externos, 70% são causados por carrapatos.
O ciclo de vida do B. microplus é relativamente simples realizado com as seguintes etapas: ovo, larva, ninfa e adultos machos e fêmeas. Tendo a necessidade de passar por duas fases obrigatórias em seu ciclo de vida: vida livre e vida parasitária. A fase de vida livre (no solo e vegetação) é diretamente influenciada pelo clima que determina o número de infestações e gerações do carrapato durante o ano. Já a fase de vida parasitária é determinada por larvas infestantes que vão do pasto para o bovino, e se fixam nas regiões mais finas do corpo do animal (períneo, base da cauda, entrepernas, virilha, úbere, escroto e interior da orelha). Após infestar e fixar-se rapidamente no animal começam a alimentar-se e evoluir em seu ciclo.
É um ectoparasita hematófago (alimenta se exclusivamente do sangue) que tem como hospedeiro fundamental bovinos. Devido este hábito, pode transmitir patógeno (Anaplasma e Babesia - Tristeza Parasitária Bovina) a animais susceptíveis e, por outro lado, auxiliar na imunização do gado contra os agentes destas enfermidades.
Para o controle do carrapato devemos considerar que 95% dos ácaros estão no pasto e 5% no animal, portanto, além de manejo de pasto, consorciação com outros animais (equinos, ovinos ou caprinos) e uso de produtos químicos, homeopáticos e/ou fitoterápicos, é necessário utilizar outras estratégias, como aquisição de raças bovinas mais resistentes (zebuínos mais resistentes que europeus e continentais), seleção de indivíduos mais resistentes dentro de uma mesma raça (herdabilidade – transmissão genética), vacinas biológicas e uso de feromônios (tornam carrapatos, machos e fêmeas, estéreis). Já, para um carrapaticida ser de total eficácia, ele deve ter permanência do composto na pele e nos pelos do animal, e ser inócuo para o animal e ao ambiente, não deixando resíduos.
Para que seja feito um controle estratégico eficiente é preciso conhecer os meses em que a população estará elevada e fazer, preventivamente, um número mínimo de aplicações nos bovinos, capaz de manter a infestação nos animais em níveis muito baixos (2 ou 3 vezes com intervalos de 14 a 21 dias).
Os princípios ativos utilizados para o controle são os mais variados: fluazuron, fipronil, diazinon, amitraz, ciclorfós, cipermetrina, organofosforados, avermectinas (abamectina, ivermectina, doramectina, eprinomectina, moxidectina) e etc. A escolha de um ou outro vai depender da realidade de cada propriedade, ou seja, a resistência do carrapato a determinado produto, a categoria animal (recém-nascidos, jovens e/ou adultos), tempo de carência (abate e leite), concentração do fármaco (tempo de ação e consequentemente a frequência de aplicação) e a possibilidade de controlar endoparasitas (vermes) e outros ectoparasitas (berne e moscas) concomitantemente.
Já a escolha do tipo de aplicação vai depender das características de cada propriedade (instalações, numero total de bovinos, mão de obra, tipo de exploração e etc...). São elas: aspersão mecânica (banheiro de aspersão), aspersão manual (pulverizador costal) e aplicação de pour-on [produto derramado na linha media dorsal do animal (“fio do lombo”) desde a escápula (“paleta”) até a base da cauda).