Posição de Mendes Ribeiro Filho sobre importação de leite frustra produtores
Ministro afirmou que Uruguai não infringiu regras do Mercosul
O comentário do ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, de que não haveria motivos para barrar o aumento das importações de produtos lácteos do Uruguai, sob o argumento de que não existe infração às regras do Mercosul, frustrou os produtores que participam nesta quarta, dia 23, da reunião da câmara setorial do leite na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), em Brasília.
– Se nós continuarmos falando em Política Agrícola, nós vamos manter o Mercosul. Se nós teimarmos em questionar a Política Agrícola nós vamos é acabar com o Mercosul – afirmou o ministro.
Mendes participou apenas da abertura do evento. Em seguida, foi para o Palácio do Planalto, onde ocorreu a reunião de ministros com a presidente Dilma Rousseff para avaliar os possíveis vetos ao texto do Código Florestal, aprovado no final de abril pela Câmara dos Deputados.
No encontro, o ministro disse esperar receber a pauta de reivindicações do setor leiteiro para avaliar quais medidas podem ser implantadas para aumentar a competitividade dos pecuaristas brasileiros em relação aos produtos dos países vizinhos, principalmente do Uruguai. As exportações do país para o mercado brasileiro nos primeiros quatro meses deste ano cresceram 98,6% em relação ao igual período do ano passado.
Os produtores lembram que, em 2011, os produtos lácteos uruguaios correspondiam a 30% do total importado pelo Brasil e, neste ano, no acumulado até abril, a participação subiu para 40%. O senador Waldemir Moka (PMDB-MS), presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo, defendeu o ministro, seu colega de partido, argumentando que certas decisões não dependem apenas do Ministério da Agricultura e envolvem os interesses políticos e econômicos.
Moka disse que os parlamentares, tanto senadores como deputados federais, irão discursar no Congresso Nacional pedindo restrições às importações de lácteos uruguaios, para desta forma dar suporte às ações do governo federal em defesa dos produtores brasileiros. As cooperativas do sul de Minas reclamam que o queijo mussarela argentino é vendido no mercado local por R$ 7,50 o quilo, abaixo do custo de produção dos laticínios mineiros, que é de R$ 10 por quilo.
Vicente Nogueira, coordenador da comissão de leite da OCB, conta que a Cooperativa Agropecuária de Uberlândia (Calu) não consegue competir com o laticínio argentino Milkaut, que coloca queijos a preços mais baratos nas gôndolas dos supermercados da Região Nordeste. Neste ano, o volume das importações de queijos da Argentina cresceu 28% em relação a janeiro a abril do ano passado.
Os argentinos aumentaram as vendas de queijo para compensar a queda nas exportações de leite em pó para o mercado brasileiro, em função do acordo firmado em novembro de 2011 por representantes do setor privado dos dois países, com o aval dos governos, estabelecendo uma cota de 3,6 mil toneladas por mês. Nos primeiros quatro meses deste ano as importações de leite em pó argentino recuaram 20,4% em relação ao ano passado. A média de importação, que foi de 4,5 mil nos primeiros quatro meses do ano passado, caiu para 3,6 mil toneladas por mês neste ano.
O acordo bilateral que freou as compras da Argentina abriu espaço para os laticínios uruguaios, que aumentaram suas vendas de leite em pó para o mercado brasileiro em 92,4% nos primeiros quatro meses deste ano. A média de importação de leite em pó uruguaio que era de 3,1 mil toneladas mensais no primeiro quadrimestre do ano passado passou para 5,9 mil toneladas em igual período deste ano. As importações de leite fluido do Uruguai passaram de 256 toneladas nos primeiros quatro meses do ano passado para 4,6 mil toneladas de janeiro a abril deste ano.